quarta-feira, abril 18, 2007

Em Coimbra, Rasganço!


Debates, como promoveu o Grupo da Cultura do Conselho da Cidade, só servem para tirar uma conclusão: este formato de “dialogo” está esgotado. Problemas complexos, como o da cultura em Coimbra, não podem ser resolvidos com tempo contado. Ou se forem, pelo menos, que seja igual para todos. Sugiro umas jornadas sérias. Com tempo. Onde todos possam expôr as suas dificuldades e, ENTRE TODOS, procurar resolver os problemas uns dos outros. Pode parecer utópico. Exemplos de países vizinhos demonstram, e provam, que essa utopia é real.

Coimbra, culturalmente, parece um enorme e alienado Rasganço. Toda a gente rasga a capa (cultural e negra, entenda-se) para ficar com o seu bocadindo. No contexto estudantil, entendo. Culturalmente, não aceito. O ritual é violento, desorganizado, cada um pensa no seu bocado e o outro...que pense da mesma forma.

Em Coimbra, os artistas estão desunidos. Em Coimbra, há “artistas” que se julgam mais artistas que os outros. Em Coimbra, salvo raros casos, os agentes artísticos não respeitam os outros. Quase todos defendem que a sua “arte” é melhor que as dos restantes. Por isso, merecem mais.

Em Coimbra, a distancia entre as palmadinhas e as facadas pelas costas - é nula. Há pouca autenticidade e alguma desonestidade intelectual.

Em Coimbra, os “artistas” silenciam as suas “eurekas artísticas”. Não falam, não comunicam e quando vão a ver, vão faze-las ao mesmo tempo. Em Coimbra, ou tudo ou nada. Não existe um planeamento que possa, pelo menos, criar rotina nos tais “novos públicos” - que tanto ambicionam.

Falar em públicos, não vejo muitos agentes artísticos a trabalharem com, ou para, grupos mais “desfavorecidos culturalmente”. Não vejo (muitos) artistas a trabalharem com pessoas com necessidades especiais (ditos deficientes) e idosos. Além dos outros, julgo que “esses” são muito bem vindos. Mas, são sempre esquecidos. Porquê? É menos arte faze-la para estes públicos? È menos arte lembrarmo-nos daqueles que também têm direito? É desprestigiante trabalhar com “deficientes”? Com "velhos"?

Em Coimbra, na cidade do Conhecimento, há muitos significados para os conceitos - de arte. Pior, uma grande falta de respeito com as diferenças.

Em Coimbra, as instituições culturais, muitas vezes, não se coordenam. Não comunicam, não procuram fundos em conjunto, não concentram energias colectivas.

Ao mesmo tempo, em Coimbra, exitem excelentes propostas artísticas. Há agentes culturais que elevam o bom nome da cidade. Há coisas que só se organizam aqui, de elevada qualidade.

Por isso, urge enterrar “machados de guerra”. Entre todos. Só com união conseguem debater com Carlos Encarnação.

Ficou claro, neste “debate”, que a cultura está entregue ao presidente da CMC. Mário Nunes não “pesca nada”, faz o que o presidente diz, nem foi lembrado neste encontro. E, estava lá!

Carlos Encarnação é um dos melhores políticos portugueses. No verdadeiro sentido da palavra. Para o bem e para o mal. É hirto. Frio QB. Decisivo. Tipo fuga para a frente e com um humor que desconcerta qualquer inimigo. Carlos Encarnação sabe onde pisa e conhece algumas "ostentações culturais". Sente a “grande desunião” e sabe que o inimigo está frágil, fragmentado. Sabe e acredita que vence, a prova é visivel e não há criatividade que o derrube.

É culpado pela situação, mas não o único. A reflexão e a acção tem de ser geral. No fundo, o problema de todos é o mesmo: não terem condições para criar.

Paulo Abrantes

4 comentários:

miguel p disse...

também lá estive e concordo com a pouco eficácia deste tipo de debate, neste caso concreto.
é aflitivo o panorama: de um lado temos encarnação com um discurso-calimero que, verdade seja dita nunca me desiludiu, já que poucas expectativas me conseguiu criar e mesmo o benefício da dúvida, caiu por terra por insistir (duas vezes)no sorridente e inclassificável erro de casting que escolheu para responsável da cultura na camara. e este é um detalhe fundamental e revelador, tanto da importância que o senhor confere ao assunto, como da relevância que encerra na personagem, já que nem o deixa falar quando se debate a área que tutela.
encarnação sabe bem, que para fazer este papel, precisava de alguém que assumiria o cargo de vereador como um fim em si mesmo (tudo aceitando) e não como um meio de promoção, de valorização e empenho de si próprio e para os outros. mau de mais: passadista, conservador e beato.
por outro lado, o leque politico alternativo resume-se à discutivel questão do sousa bastos e da, esta sim, importante questão das demolições da baixinha, pelo bloco de esquerda. é pouco. o resto é vergonhoso: a palestra do representante da maioria, foi penosamente ao lado do assunto e da cdu vem uma postura contorcionista, pela convergência vodka-laranja-pp em que tudo serve para falar do trabalho do vereador gouveiamonteiro. a inaceitável falta de comparência do ps, ajuda a pintar de preto-angústia as mais optimistas perspectivas que se possam ter.
na plateia, a impressão que ficou foi, de muitas capelinhas com a caixa de esmolas vazia e concordo que se tivessem tido o discernimento de preparar, sem complexos, uma posição de força, esta fragmentação não teria sido utilizada pelo presidente da camara, que nao explicou a questão do tagv, do teatro da cerca, do festival de blues, da fila k, dos carrosseis na praça e de muitas outras. faltam dois anos e qualquer coisa e tenhamos consciência: as poucas explicações do presidente são mais que suficientes para muitos. os que lá não foram...

Anónimo disse...

é uma estratégica básica, óbvia e tão natural que nem sequer devia haver necessidade de chamar a atenção sobre essa questão, de juntar forças. a vida é feita de milhentas situações em que precisamos de nos unir para alcançar os nossos objectivos, sermos vistos, ouvidos, reconhecidos, apreciados…
deixem-se de pensar que são sós e únicos, deixem-se de superioridades (imaginárias), desçam das tribunas e dos pedestais, favoreçam a criatividade nesta cidade onde as potencialidades sem dúvida existem. juntamo-nos, de mãos dadas, e conseguimos dar mais carinho e espaço à arte para brotar e florescer, tal como ela merece! com o devido tempo. com pés e cabeça. para o bem de todos.
m

Anónimo disse...

…apanhando boleia das palavras do Descartes, pensem nisso (alusão obviamente): “comunico, logo existo” – se calhar uma oportunidade única de dar asas as vossas ideias (lindas, criativas e óptimas), de abrir as portas mentais e físicas, de deixar de trabalhar p´ra o boneco, de tocar a trocar ideias, de unir esforços para que o ambiente artístico se torne propício e frutífero. sim??? ´bora lá!!! ficar quieto e sossegado é que não.

Anónimo disse...

…apanhando boleia das palavras do Descartes, pensem nisso (alusão obviamente): "comunico, logo existo" – se calhar uma oportunidade única de dar asas as vossas ideias (lindas, criativas e óptimas), de abrir as portas mentais e físicas, de deixar de trabalhar p´ra o boneco, de tocar a trocar ideias, de unir esforços para que o ambiente artístico se torne propício e frutífero. sim??? ´bora lá!!! ficar quieto e sossegado é que não.
malin